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José Mauricio Nunes Garcia
José Mauricio Nunes Garcia 1

POST MORTEM

O mestre de capela não foi esquecido pelos alunos, que continuaram copiando-lhe as obras. A "Missa de Santa Cecília" (CPM 113) foi apresentada uma segunda vez, em 1830.

Em 1831, o Imperador Pedro I abdicou do trono brasileiro em nome do filho Pedro, então com cinco anos de idade. Ele embarcou para a Inglaterra, a fim de montar uma frota para lutar contra o irmão Miguel, que usurpara o trono português de sua filha Maria da Glória.

Um governo regencial foi estabelecido no Brasil até a idade adulta da criança. Um dos primeiros decretos do novo governo dissolveu a Orquestra da Capela Imperial. Alguns dos músicos demitidos sobreviveram como professores de música, alguns como copistas. Mas a maioria deles experimentou o desemprego e a pobreza.

Em 1840 o príncipe D. Pedro, aos 14 anos, foi coroado imperador Pedro II. Em 1842 ele deu os primeiros passos para restaurar a atividade musical na Capela Imperial, ao nomear Francisco Manuel da Silva, um ex-aluno de José Maurício, mestre de capela. O repertório mauriciano passou a ser novamente apresentado, mas com reformulações, a título de "modernização" das obras.

Francisco Manuel compôs a música do hino nacional brasileiro, inspirada a melodia num motivo recorrente em algumas das obras sacras do padre-mestre e a introdução numa missa de Marcos Portugal. Ele também fundou o Conservatório Imperial de Música, a atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em Campinas, São Paulo, Manuel José Gomes, o pai do compositor Carlos Gomes, reuniu 14 cópias das composições de José Maurício num arquivo pessoal.

Outras cidades importantes que preservaram o repertório mauríciano ficam no estado de Minas Gerais. Em São João D'El Rey, a Sociedade Musical Lira Sanjoanense, fundada em 1776, possui muitas cópias, algumas delas únicas, de obras do padre-mestre. E a Orquestra Ribeiro Bastos, na mesma cidade, não fica atrás. Em Ouro Preto, o Museu da Inconfidência é o atual proprietário da coleção de partituras reunidas pelo musicólogo alemão Francisco Curt Lange, incluído o manuscrito autógrafo da "Missa Abreviada" (CPM 112), de 1823.

Mas a preservação da maior parte das obras mauricianas se deve a Bento das Mercês, arquivista e copista da Capela Imperial. Ele fez cópias precisas de muitas das obras, criando um arquivo pessoal que foi posteriormente adquirido, a partir dos herdeiros, pelo governo brasileiro. Hoje, a coleção, denominada "Gabriela Alves de Souza", pertence à Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Alberto Nepomuceno (1864-1920)
Alberto Nepomuceno (1864-1920) 2

Na Escola de Música também há duas outras coleções importantes, nas quais figuram obras do padre-mestre: a da Fazenda Real de Santa Cruz, e a de Francisco Manuel da Silva. O primeiro dos diretores da Escola, Leopoldo Miguez e o compositor Alberto Nepomuceno (1864-1920) estudaram e editaram muitas das partituras mauricianas.

Outro admirador foi Alfred d'Escragnolle, Visconde de Taunay, um neto de Nicholas Antoine Taunay. Taunay escreveu em jornais vários artigos e textos sobre o compositor, e depois de eleito para a câmara em 1881, apresentou em 1882 um projeto de lei destinado a rastrear todas as obras do padre- mestre, que não foi aprovado. Seu filho Alfonse reuniu os textos do pai, e os publicou em 1930 em dois livros: "José Mauricio Nunes Garcia", e "Duas grandes glórias brasileiras: José Maurício e Carlos Gomes".

Após a morte de Nepomuceno, em 1920, rarearam as apresentações de obras mauricianas. Em 1930, o "Requiem" (CPM 185), foi apresentado na Igreja da Candelária, regido pelo compositor Francisco Braga. A obra também foi apresentada em 1948, em memória do compositor Lorenzo Fernandez.

Em 1941, a musicóloga e maestrina Cleofe Person de Mattos (1913-2002), professora da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fundou o Coro Pró-Arte, mais tarde Associação de Canto Coral, um instituição sem fins lucrativos, cujo objetivo era, como ainda é hoje, divulgar a música brasileira, especialmente as obras mauricianas.

Mattos escreveu e publicou, pelo Conselho Federal de Cultura, em 1970, um "Catálogo Temático das obras de José Maurício Nunes Garcia", um rigoroso levantamento de todas as obras mauricianas. Na década de 1980, ela ajudou a publicar, pela Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), algumas delas. E, finalmente, em 1997, ela publicou, pela Biblioteca Nacional, o livro "José Mauricio Nunes Garcia - Biografia", no qual a rigorosa pesquisa científica mistura-se ao romance biográfico.

O Catálogo Temático e a Biografia foram as principais fontes de consulta para a construção desta página.

Cleofe Person de Mattos
Cleofe Person de Mattos
(1913-2002) 3


<I>Mauricinas</I>. Alegoria em homenagem ao padre-mestre

Alegoria com monograma em homenagem ao padre José Maurício Nunes Garcia. Ornamento à folha de rosto das Mauricinas 4.


1 GARCIA Jr., José Maurício Nunes. José Maurício Nunes Garcia. Litografia. Coleção Rodrigo Goulart. In MATTOS, Cleofe Person de. José Maurício Nunes Garcia - Biografia. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1997. Capa.

2 In Wikipedia Acesso: 7/10/2011.

3 In MATTOS, Cleofe Person de. José Maurício Nunes Garcia - Biografia. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1997. Contracapa.

4 2º Centenário do nascimento de José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). Exposição Comemorativa. Prefácio de Cleofe Person de Mattos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Divisão de Publicações e Divulgação, 1967. 95p. Fotografia anexa à p 52.


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