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A Coroação de D. Pedro I
A coroação de D. Pedro I imperador do Brasil, na Capela Real, em 1ş de Dezembro de 1822. 1

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Em abril de 1821, o rei retornou a Portugal, para um período de reinado constitucional. Ele deixou o filho Pedro como regente do Brasil, a quem disse as hoje famosas palavras: "Pedro, se o Brasil se tornar independente, toma a coroa para ti, antes que um desses aventureiros dela lance mão, pois sei que me hás de respeitar", e deixou o Rio de Janeiro com muitas preocupções sobre o próprio futuro.

Foi um dia triste para José Maurício, que considerava o rei um apreciador da sua música. Ele recebeu como recompensa pelo serviço de 13 anos na corte uma caixa de tabaco decorada com ouro e pedras preciosas, com o retrato do rei de marfim.

Marcos Portugal permaneceu no Brasil, agora no cargo de professor de música do príncipe regente.

Sigismund Neukomm partiu para a França uma semana antes da viagem de retorno do rei a Portugal. Além de ter sido o primeiro compositor a utilizar um tema folclórico brasileiro numa composição, fez uma importante contribuição para a história da música brasileira, colocando no papel algumas modinhas de Joaquim Manoel da Câmera, um cantor popular e guitarrista da época. De acordo com o testemunho de Manoel de Araújo Porto Alegre, quando deixou o Rio, o padre preparava uma apresentação da "Criação" de Haydn, cuja partitura Neukomm o presenteou, mas que não aconteceu. Em vez disso, o padre compôs dois salmos arranjados sobre temas da magnífica obra.

Nesse ano de 1821, também compôs um "Laudamus" que lembra a música de Rossini, cujas óperas começavam a fazer sucesso nos teatros do Rio de Janeiro.

A partida da corte portuguesa foi um desastre para as finanças públicas do país. Eles levaram consigo o que podiam, deixando o Banco do Brasil à falência. As dificuldades financeiras obrigaram o príncipe a cortar os benefícios extras concedidos aos músicos da corte, incluindo a "ração de creado particular" de José Maurício, mantendo apenas o salário integral.

A partir do segundo quartel de 1822, José Maurício passa a receber o salário trimestral (a côngrua) como capitular (integrante do Cabido da Sé); mesmo preservado o vencimento básico, reivindicou numa carta ao príncipe o benefício extra concedido por D. João VI, justificando-a como um pagamento pelo seu ensino público de música. Tendo o pedido negado, ele decidiu encerrar o curso de música que ministrou por 28 anos.

A desordem financeira pôs os brasileiros contra os comerciantes portugueses, cujos interesses eram díspares. A aristocracia portuguesa em Lisboa pressionava o rei a assinar um ato que retiraria do Brasil a condição de Reino Unido. O príncipe regente, temendo revoltas que levariam a ver o país dividido em pequenas repúblicas, como na América espanhola, no caminho para a cidade de São Paulo, aos 7 de setembro de 1822 declararou a independência do Brasil de Portugal. Em 1ş de dezembro, ele foi coroado imperador Pedro I do Brasil.

Desse ano crucial, a única obra conhecida de José Maurício é a "Novena do Santíssimo Sacramento" (CPM 75). Há registros de que a vila de Pindamonhangaba encomendou-lhe um "Te Deum", apresentado na missa de ação de graças ao príncipe regente quando por lá passou.

Portugal declarou guerra ao Brasil. As províncias do sul permaneceram leais ao imperador, mas Portugal ainda controlava o norte. Em 21 de Março de 1823, o Imperador decidiu atacá-los com a frota brasileira, sob o comando do almirante inglês Lord Cochrane que, na maioria das ocasiões por blefe, conseguiu a rendição das embarcações inimigas.

Há apenas uma obra conhecida, escrita em 1823: a "Missa Abreviada" (CPM 113). Nesse mesmo ano, a Capela Real foi rebatizada "Capela Imperial".


O Largo da Carioca em 1821
O Largo da Carioca em 1818, vendo-se o morro do Castelo e a rua de São José, e à esquerda, sob a luz do sol, a torre da Capela Real 2


1 DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Rio de Janeiro: Itatiaia, 1992. v. 3, pr. 48.

2 MACEDO, Joaquim Manuel de. Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garnier, 1991. Caderno de fotografias à p. 224.


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