Página inicial | Português | Obra | Discografia | Bibliografia | Mapa

O Real Teatro de São João
O Real Teatro de São João, no Largo do Rocio (atual Praça Tiradentes), palco das grandes manifestações artísticas do Rio de Janeiro, a partir de 1813 1.

O TRABALHO AUTÔNOMO

No primeiro dia de 1812, Marcos Portugal dirigiu a música para a festa da Epifânia na Capela Real, para a qual compôs as "Matinas in Epiphania Domini" 2.

Em 27 de janeiro, coube a José Maurício a música da festa do oitavário de São Sebastião, celebrada na igreja dedicada ao santo, a Sé Velha no morro do Castelo. O Senado da Câmara pagou-lhe apenas a quantia de 72$000, referente ao saldo em atraso do ordenado de 200$000 de 1811, e nada lhe adiantou para o pagamento dos músicos. Em julho o compositor lhes cobrou as duas doblas e meia (32$000), referentes ao adiantamento e mais quatro doblas (51$200) pelo adiantamento realizado na celebração de 1808, pelo qual não fora ressarcido, no total de 83$200 3. Em 7 de novembro o Senado da Câmara lhe ressarciu apenas os 32$000 referentes a 1812.

Em 13 de fevereiro de 1812, recebeu novo alívio nas funções ao ser substituído no posto de organista da Capela Real, juntamente com o português Joaquim Felix Xavier, o Baxixa 4, por Simão Vitorino Portugal 5 e João Jacques 6, respectivamente.

Em 26 de maio faleceu D. Pedro Carlos de Borbón e Bragança, infante da Espanha, Almirante General de Marinha portuguesa e esposo da infanta Maria Teresa de Bragança, Princesa da Beira. As exéquias foram realizadas em 26 de junho. Nas vésperas, às sete e meia da noite, ouviu-se o "Ofício de Defuntos" de Marcos Portugal 7. No dia seguinte às onze horas da manhã, houve missa, com música de Zanetti 8, regida também por Marcos. Em seguida ouviram-se cinco responsórios, o primeiro de autoria de Fortunato Mazziotti, e os demais de Marcos Portugal.

Em julho de 1812 José Maurício conseguiu quitar a dívida contraída em 1810 e evitar assim a perda da casa da Rua das Marrecas 9.

Somente uma obra do mestre de capela traz data de 1812: o moteto "Tamquam Aurum" (CPM 56), ou "Moteto para os Santos Mártires", escrito para a "Real Quinta" da Boa Vista. A obra fora escrita para os músicos da Real Câmara e o coro de escravos da Real Fazenda de Santa Cruz. Comparando-a com o "Moteto a São João Batista", de 1810, escrito para o mesmo conjunto, ela demonstra o notável progresso técnico dos cantores 10, que também nesse ano apresentaram a farsa "A Saloia Enamorada", de Marcos Portugal.

Em 17 de dezembro de 1812, aniversário da rainha, foi encenada a ópera "Artaserse", de Marcos Portugal, composta em 1806 para o Real Teatro de São Carlos. Complementando o espetáculo, apresentou-se o bailado "Apolo e Dafne", em três atos, pela companhia de Luís Lacombe.

A partir de 1813, as cerimônias paralitúrgicas passaram a ser financiadas pelo Real Bolsinho, não mais pelo Senado da Câmara; isso as reservava para o mestre de música de Suas Altezas Reais. Essa foi a única perda financeira para José Maurício com a chegada de Marcos Portugal; o padre no entanto se livrou dos frequentes atrasos no pagamento e das quebras de contrato, que muito o prejudicavam financeiramente.

São de junho de 1813 as obras que marcam a predominância das composições sob encomenda no repertório de José Maurício, proporcionadas pelo alívio de funções na Capela Real: os dois salmos "Laudate Dominum" (CPM 76) e "Laudate Pueri Dominum" (CPM 77), para exéquias de infantes, compostos a pedido do amigo José Baptista Lisboa para a igreja dos Terceiros do Carmo. A dedicatória, bastante curiosa, a um "Senhor Bidoloretes" 11, faz supor que o compadre ganhara um apelido. A referência ao resultado "ganhadeiro" por ser pequena a quantidade de músicos indica que foram escritos para que Lisboa os utilizasse na arrematação da música em cerimônia da Irmandade.

No mesmo ano, para a igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, José Maurício orquestrou as "Matinas da Assunção de Nossa Senhora" (CPM 172) escritas em 1808, e compôs uma "Missa Pequena" (CPM 109), para a festa de Santa Teresa.

Com a chegada da corte, o teatro de Manuel Luís passou a ser considerado acanhado pelo séquito real, acostumado ao São Carlos, tido como um dos melhores teatros da Europa. Logo surgiu a idéia de dotar o Rio de Janeiro de um teatro mais amplo, que permitisse a montagem de grandes óperas. Uma proposta partiu de Fernando José de Almeida, cabeleireiro de D. Fernando José de portugal e Castro, conde de Aguiar. "Fernandinho", como era conhecido, adquiriu inicialmente o terreno em frente à igreja da Lampadosa, para em seguida obter, de abastados comerciantes, o financiamento para a construção do novo teatro. Por fim, conseguiu que o marechal de campo João Manuel da Silva fizesse a planta. Tudo preparado, apresentou o projeto ao Príncipe Regente, que o autorizou em decreto de 28 de maio de 1810 12. Foram utilizados para a construção os blocos de granito que haviam na construção da nova Sé, iniciada no tempo de Gomes Freire de Andrade e abandonada pouco tempo depois. Três anos durou a construção. O imponente edifício fora projetado para acomodar confortavelmente 1.200 pessoas na platéia; além disso contava com 112 camarotes. Em 12 de outubro 1813, o Teatro Real de São João, ainda inacabado, foi aberto ao público. O espetáculo inaugural, pelo aniversário do Príncipe D. Pedro, foi o drama em música "O Juramento dos Numes", de Gastão Fausto da Câmara Coutinho, com música de Bernardo José de Sousa Queirós, nomeado regente e compositor do teatro 13.

Apesar de não mencionado nos livros de registros de pagamentos da irmandade de São Pedro dos Clérigos, é grande a probabilidade de ter José Maurício voltado a compor e a reger a música nas festividades do Santo Patriarca em 1814, tendo recebido 100$000 14. Para a ocasião teria composto a "Novena do Apóstolo São Pedro" (CPM 66). De 1814 Apenas mais uma obra mauriciana é conhecida: o "Bendito e Louvado Seja" (CPM 12), para a Real Fazenda de Santa Cruz. A partir de 22 de novembro desse ano, passou a receber do "Real Bolsinho" do Príncipe Regente um montante anual de 25$000 (25 mil réis), prêmio concedido para construir seu "patrimônio clerical".

Em 17 de dezembro de 1814, celebrando o aniversário de D. Maria I, ocorreu a estreia brasileira da ópera "Axur, Rei de Ormuz", de Antonio Salieri, no Real Teatro de São João. Com cenários de Jacomo Argengio, da ópera de Viena, e intérpretes Carlota Donnay, Marianna Scaramelli, João dos Reis Pereira, Luís Inácio, João Estremeira, Maria Cândida, Miguel Vaccani e Gerardo Inácio.

Em 1815, apesar de ter assumido a direção da música o padre João José de Faria, José Maurício compôs para a irmandade de São Pedro dos Clérigos as "Matinas do Apóstolo São Pedro" (CPM 173). Para a Real Fazenda de Santa Cruz compôs outro "Bendito e Louvado Seja" (CPM 13), segundo o subtítulo, "Mais pequeno e abreviado". As obras de 1815 das quais há apenas registro são: o moteto "Si Quæris Miracula" (CPM XLIX), responsório de Santo Antônio a 4 vozes, fagote e órgão; um "Dixit Dominus" (CPM LXXVI) a 4 vozes e órgão; um "Laudate Pueri" (CPM LXXXIII) sem indicação de vozes e instrumentos; um solo de baixo "Prætiosa" (CPM LXXXVII), para se cantar no meio do salmo "Credidi" das Segundas Vésperas de São Sebastião; e as "Vesperas de São João" (CPM ICXLV / CXLVI), a 4 vozes com acompanhamento de orquestra.

Missa dos Defuntos (CPM 185)
Cópia da Missa dos Defuntos (CPM 185), parte dos fagotes 15.

Em dezembro de 1815, a fim de pleitear um assento na assembleia da Santa Aliança, o príncipe regente promoveu o Brasil de colônia de Portugal a Reino Unido a Portugal e Algarves. No início de 1816, José Maurício regeu a musica da missa pelo evento, celebrada na igreja de São Francisco de Paula, no Largo da Sé Velha.

Nesse ano há também o registro de um "Magnificat" (CPM XI) e um "Moteto para a sagração do Illustríssimo Senhor Bispo da Capela Real" (CPM L), cerimônia ocorrida em 15 de março. Esse último indica que as portas da Capela Real não se fecharam para ele como compositor.

No dia 20 de março de 1816 faleceram, coincidentemente, a rainha, D. Maria I, e Vitória Maria da Cruz, mãe de José Mauricio. A morte da rainha, ocorrida no Convento do Carmo, comoveu a cidade. O cortejo fúnebre passou por várias ruas até o Convento da Ajuda para o sepultamento, acompanhado pelo povo em silêncio. Um mês depois, em 22 de abril, a missa fúnebre em sua memória foi celebrada solenemente na Capela Real, com uma "Missa de Requiem" e um "Ofício de Defuntos", ambos compostos e regidos por Marcos Portugal 16.

Para promover a sua própria cerimônia fúnebre, os Terceiros do Carmo comissionaram a José Maurício uma "Missa de Mortos" (CPM 185), claramente influenciada pelo famoso "Requiem" de Mozart, e um "Ofício de Defuntos" (CPM 186), ambos considerados obras-primas. Recebeu 26$000 pelo trabalho.

Em 4 de julho de 1816, um segundo mestre de capela, Fortunato Mazziotti, foi admitido na Capela Real. Pouco depois, em 9 de julho, ele regeu o "Mattutini dei Morti", do napolitano David Perez, numa segunda cerimônia em memória da Rainha defunta 17.


Convento da Ajuda
Convento de N. Sr.ª da Ajuda, demolido no início do século XX, onde foi sepultada a rainha D. Maria I.
Seus restos mortais lá permaneceram até 1821 18.

1 DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Rio de Janeiro: Itatiaia, 1992. v.3, pr. 45.

2 A partitura manuscrita autógrafa dessas Matinas encontra-se na Biblioteca da Ajuda, cota 44-XV-6 a 8, em três volumes de 41, 55 e 34 folhas, respectivamente. SARRAUTTE, Jean-Paul. Marcos Portugal - Ensaios. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, 180p. p. 126.

3 "Senhores do Senado / o pe José Maurício Nunes, atual me da Real Capela representa que ele pagou já aos músicos a festa do oitavário de S. Sebastião lá em cima na Sé Velha no dia 27 de janrº a que o mesmo Senado assistiu e gastou duas doblas e meia; e também representa que no primeiro ano que o Senado apresentou em presença de S A R nas suas festas anuais, ele suplicante gastou do seu dinheiro quatro doblas de acréscimo do número e preço dos Músicos, e como o Senado não pagou, o que deu causa a S A R mandar desse dinheiro suficiente, deu ao depois o Senado 200$000 mais os 51$200 do primeiro ano que ainda não pagou, e como o mesmo Senado já não tem que fazer despesas com a música que se faz na Real Capela, porquanto S A R as tomou a si; portanto / Pede que o mesmo Senado seja servido mandar pagar ao suplicante 83$200 que se lhe deve conforme exposto acima / E.R.M.". MATTOS, Cleofe Person de. José Maurício Nunes Garcia - Biografia. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1997, pp. 103-104.

4 "BAXIXA, grande pianista, tão bom como o precedente [José Maurício], dotado, entretanto, de gosto mais delicado. Foi primeiramente da Capela Real de Lisboa e, em seguida, da do Rio de Janeiro, onde veio a enlouquecer. Sua loucura não o impedia de exercer o talento extraordinário que possuía; este parecia ter aumentado depois de ter ele perdido a razão". BALBI, Adrien. Essai statistique sur le royaume de Portugal et d'Algarve. Paris: Rey et Gravier, 1822. 658 p. p. 490. Nascido em Lisboa em 1775, Baxixa entrou na Capela Real em 11 de fevereiro de 1811, logo após chegar ao Rio de Janeiro, com ordenado anual de 300$000. Após um ano no cargo, foi substituído justamente por ter afetadas as faculdades mentais.

5 "SIMÃO PORTUGAL, irmão do precedente [Marcos Portugal]. Compositor sobretudo de peças isoladas tais como árias e duetos". BALBI, op. cit., p. 487. Simão Vitorino Portugal (1784-1842), natural de Lisboa, estudou, como o irmáo, no Seminário da Patriarcal, admitido em 14 de Abril de 1782. Tornou-se organista da Patriarcal, e dedicou-se ao ensino de piano e canto. Escreveu algumas obras de música religiosa. Acompanhou o irmão para o Rio de Janeiro, em 1811, e em 1812 foi admitido como organista na Capela Real, e em seguida no Real Teatro de São João. Em 1830 foi nomeado por D. Pedro I ao posto de mestre de música da Capela Imperial, vago em função da morte de José Maurício. Publicou em 1841 a valsa "Saudades do Rio de Janeiro".

6 Padre João Jacques. Organista. Nomeado para a Capela Real, em 10 de fevereiro de 1812, no lugar de Baxixa. Membro da Irmandade de Santa Cecília em 1819. Professor de órgão, piano e canto de 1848 a 1852. Falecido a 2 de agosto de 1852. Era Cavaleiro da Ordem de Cristo. ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e Seu Tempo: 1808-1865: Uma Fase do Passado Musical do Rio de Janeiro à Luz de Novos Documentos. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1967, 2v. (Coleção Sala Cecilia Meireles), v. 2, p. 182.

7 "... os Responsórios foram cantados pelos músicos da Real Câmara e Capela, dirigidos pelo insigne Marcos Antônio Portugal, mestre de SS.AA., o qual nesta excelente composição sustentou a grande reputação que tem adquirido, ainda nos países estrangeiros. (O mesmo jornal [Gazeta do Rio de Janeiro], em 1º de julho)". ANDRADE, op. cit., 1967, v. 1, p. 33.

8 Francesco Zanetti (ca. 1740-1790), compositor e maestro italiano. Suas óperas "Antigono" e "Didone" tiveram grande sucesso na Itália. Suas composições instrumentais foram publicadas em Londres, em 1790.

9 "Saibam quantos este público Instrumento de Escritura de Distrato de outra virem, que no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e oitocentos e doze, aos seis de julho nesta cidade do Rio de Janeiro no meu Escritório perante mim Tabelião apareceu como outorgante credor Mateus Francisco Gomes que vive de lavoura e morador na Ilha da Sapucaia, freguesia de Inhaúma, e como outorgado devedor o padre José Maurício Nunes Garcia professo na Ordem de Cristo e Mestre da Capela Real reconhecido este de mim Tabelião, e aquele de duas testemunhas adiante nomeadas e assinadas, e por eles me foi apresentado o Bilhete da Distribuição do teor seguinte = D. a Carvalho Mateus Francisco Gomes fez Escritura de Distrate de outra ao padre José Maurício Nunes Garcia em seis de Julho de mil oitocentos e doze Brates = Dizendo-me o outorgante perante as ditas testemunhas que o outorgante [outorgado] lhe era devedor da quantia de quatrocentos mil réis que lhe pediu emprestado, e porque já recebeu a quantia de cem mil réis e ao fazer desta a de trezentos mil réis perante mim no que dou fé disse que lhe dá quitação do total de quatrocentos mil réis, e seus competentes juros, até a esta data, e que prometia não mais exigir dele coisa alguma, e haver o seu fiador desobrigado da fiança, e a hipoteca por desembaraçada. E logo pelo outorgado foi dito que aceitaria essa quitação na forma dela. Em fé do que me pediram lhes fizesse esse Instrumento que lhes li e aceitaram e assinaram as testemunhas presentes: padre Firmino Rodrigues Silva e José Luiz Garcês. E eu José Antonio dos Santos Armeno que escrevi. ass.: Mateus Fran.co Gomes, Pe José Maurício Nunes Garcia, padre Firmino Rodrigues da Silva e José Luiz Garcez, testemunhas". MATTOS, op. cit., 1997, pp. 104-105.

10 Em face da grande quantidade de obras mauricianas sem data, consideramos precipitada a conclusão de que 1812 foi um ano pouco produtivo para o mestre de capela.

11 "Ilmº Sr. Bidoloretes remeto o seu Laudate Dominum omnes gentes. Estimarei que saia ao seu gosto; e que seja bem ganhadeiro, é muito pequeno e de pouca gente. Viva, viva, viva, Sr. Bidoloretes: Sua casa ao 11 de julho de 1813". [...] "Ilmº Sr. Bidoloretes; vai o Laudate Pueri; e fica V. S. com dois salmos de anjinhos bem xibantes; ambos com motivo de rondó e pequenos; e próprios para as vozes q[ue] quer". MATTOS, op. cit., 1997, p. 108.

12 "Fazendo-se absolutamente necessário nesta Capital que se erija um teatro decente e proporcionado à população e ao maior grau de elevação e grandeza em que hoje se acha pela minha residência nela e pela concorrência de estrangeiros e outras pessoas que vêm das extensas províncias de todos os meus Estados: fui servido encarregar o doutor Paulo Fernandes Viana, do meu Conselho e Intendente de Polícia, do cuidado e diligência de promober todos os meios para ele se erigir; e conservar sem dispêndio das rendas públicas e sem ser por meio de alguma nova contribuição que grave mais os meus fiéis vassalos, a quem antes desejo aliviar de todas elas;"

13 "Terça-feira, 12 do corrente, dia felicíssimo por ser o natalício do Sereníssimo Senhor D. Pedro de Alcântara, Príncipe da Beira, se fez a primeira representação no Real Teatro de S. João, a qual S.A.R. foi servido honrar com sua Real Presença e a da sua Augusta Família. Este teatro, situado em um dos lados da mais bela praça desta Corte, traçado com muito gosto e construído com magnificência, ostentava naquela noite uma pomposa perspectiva, não só pela presença de S.A.R., e pelo imenso e luzido concurso da nobreza e das outras classes mais distintas, mas também pelo aparato de formosas decorações e pela pompa do cenário e vestuário. Começou o espetáculo por um drama lírico, que tem por título O Juramento dos Numes, composto por D. Gastão Fausto da Câmara Coutinho, e alusivo à comédia que se devia seguir. Este drama era adornado com muitas peças de música de composição de Bernardo José de Sousa e Queirós, mestre e compositor do mesmo teatro, e com danças engraçadas nos seus intervalos. Seguiu-se a aparatosa peça intitulada Combate de Vimieiro. A illuminação exterior do teatro, ornada com esquisito gosto, realçava o esplendor do espetáculo. Ela representava as letras J.P.R. alusivas ao Augusto Nome do Príncipe Regente Nosso Senhor, cuja mão liberal protege as Artes, como fontes perenes de riqueza e da civilização das nações". Gazeta do Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1813.

14 É o seguinte o registro à p. 200 do Livro 3° de Receita e Despesa da Irmandade de S. Pedro:
1814- Que paguei de Música da Novena, Festa e 2 Te Deum ... 100$000
DINIZ, Jaime. A Presença de José Maurício na Irmandade de São Pedro. In MURICY, José Cândido de Andrade et alii. Estudos Mauricianos. Rio de Janeiro: INM/FUNARTE/PRÓ-MEMUS, 1983. p. 51.

15 Acervo da Escola de Música da UFRJ, manuscrito 4110. In MATTOS, Cleofe Person de. Catálogo Temático das obras do padre José Maurício Nunes Garcia. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1970. Caderno de Fotografias, à p. 32.

16 "Às 7 horas e meia começou o Ofício solene, sendo presidido pelo Ex.mo Bispo Capelão Mór, e acompanhado de excelente música, composta e dirigida pelo insigne Marcos Antonio Portugal, a que concorreu imenso povo, e que durou até o fim do referido dia. / No dia seguinte às 10 e meia entrou o Ex.mo Bispo Capelão Mór acompanhado do seu Cabido, e feitas as vênias à Eça, se dirigiu para a Capela Mór, onde celebrou Pontificalmente o Sacrossanto Sacrifício da Missa, sendo assistente o Il.mo Monsenhor Deão, e sendo a Música da dita inteiramente nova, e da composição do mencionado Mestre, que pareceu exceder-se nesta obra prima". Gazeta do Rio de Janeiro, 27 de abril de 1816. p. 1.

17 "Às 7 horas da tarde do dia 9 começaram [as] Matinas, oficiadas por comissão de S. Ex, Reverendíssima pelo Ilustríssimo Monsenhor Decano, que fez a sua entrada com a solenidade praticada na Real Capela. Dirigiu esta ação um Mestre de Cerimônias da mesma Real Capela, e cantaram-se em grande orquestra, e por todos os músicos da Real Câmara e Capela, os responsórios do nunca excedido David Peres, regidos por Fortunato Mazziotti, compositor ao serviço de S.M. No dia seguinte Dignando-se S.M., cujo Real Coração nunca cessa de dar as mais decisivas provas de saudade, respeito e acatamento à mais digna das Mães, e à melhor das Soberanas, aceder aos votos do Senado, a cujos desejos só podia igualar a Magnificência Real, Foi Servido Ordenar que o Ex.mo Bispo Capelão Mór oferecesse ao ALTÍSSIMO o Santo Sacrifício da Missa em solene pontifical". Gazeta do Rio de Janeiro, [?] de julho de 1816. p. 3.

18 HEINRICH, Georg. Aquarela. In MACEDO, Joaquim Manuel de. Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garnier, 1991. Caderno de fotografias, à pp. 103-104.


Página inicial | Português | Obra | Discografia | Bibliografia | Mapa